T Vejo Por Aih!

terça-feira, julho 25, 2006

hasta la Isla de Margarita
episódio 3: "A Doida da Rodoviária"

Aprendi algumas "lições", talvez seria mais impressões, sobre banheiros nesta viagem. Banheiros de hotel geralmente são limpos (dependendo da categoria do hotel é claro), sempre têm uma toalhinha e aqueles sabonetezinhos embalados [falando nisso descobri ter trazido um desses comigo hahaha]. Os banheiros de posto são precariamente mantidos e geralmente têm alguém na porta cobrando o uso (paguei 20 centavos). Usei alguns banheiros de ônibus e eles sempre tinham papel e não eram tão sujos quanto eu pensava que fossem, mas é terrível fazer xixi quando o veículo está em trânsito. Mas os capeões de sujeira e falta de manutenção foram os banheiros de rodoviária! Tantantaaaan! E é por causa de um deles o desenrrolar da história deste post.

Chegamos na rodoviária cansados mas corremos logo pra comprar as passagens pois o outro ônibus para Santa Helena chegaria em uma hora. Após fazermos isso aproveitamos para ligar para casa para informarmos de que nossa integridade física continuava bem e intacta desde quando deixamos Manaus. Os telefones públicos de onde ligamos fica bem ao lado dos banheiros e eu, apertadíssima, criei coragem, respirei fundo e me dirigi decididamente à porta na qual a plaquinha da bonequina de saia indicava com uma setinha para a esquerda.

O local fazia realmente juz à má fama dos banheiros de rodoviária. Azulejo encardido, bancada de cimento deteriorada, espelho cheio de manchas pretas e somente uma das portas de madeira dos cubículos estava com feixe funcionando. Havia também na frente da bancada uma figura talvez muito comum em vários banheiros de rodoviária pelo Brasil afora. Uma mulher, muito magra, vestindo roupas muito gastas e sujas. Em cima da bancada havia um saco de pano aonde ela guardava seus pertences. Tomei-a como uma andarilha ou mendiga. E dirigi-me com pressa ao box (aquele único que dava pra fechar) e aliviei minha vontade de fazer xixi como só uma pessoa também apertada para tirar a água do joelho poderia me entender. Dentro de meus devaneios de alívio não percebi de imediato alguém gritando dentro do banheiro. Primeiramente pensei ser alguém gritando lá fora. Mas depois notei a proximidade da voz: deveria ser era aquela mulher que eu tinha me deparado ao entrar. Ela gritava compulsivamente:

- Olha cuidado com a minha mãe hein!
- Se cê bater nela vai se ver comigo!
- Ninguém bate na minha mãe!
- Eu vou te comer na porrada!
- Eu vou te queimar no fogo do inferno seu demônio!
- Eu vou te queimar todinho!
- Porque ela é minha mãe!
- Ela não merece isso não!
- Eu acabo com a tua raça!
- Experimenta levantar a mão pra ela pra você ver!
- Ela é sujinha mas é a minha mãe!
- Te mete a besta pra ti ver!


Eu estava paralizada com medo de abrir a porta quando ela terminou de falar isso. Então respirei fundo, no mais possível do que se consegue respirar num lugar inóspito daqueles, e saí do box aparentando calma e passividade. Era como se nunca tivesse ouvido aqueles desaforos. Me dirigi ao espelho para ajeitar o cabelo e verificar o meu estado. Me senti sendo observada a cada movimento. Ela continuava no mesmo lugar de onde eu a vira pela primeira vez. E, quando eu passei por ela e saí pela porta do banheiro ela voltou a gritar os mesmos impropérios. Meu amigo continuava em suas ligações e eu sentei em um banquinho de uma lanchonete logo ao lado e comprei uma maçã para o café da manhã. E voltei minha atenção para uma televisão perto de onde eu estava sentada mas , de vez em quando, olhando na direção da porta do banheiro.

Depois de um tempo eu via a doida saindo do banheiro. Ela me viu e ficou me encarando. Ela me olhava com desconfiança e por um momento pensei que fosse me abordar mas meu companheiro LuciDo chegou nesta hora e ela passou direto. Ficamos ou pouco por lá conversando, comentei com ele a situação e depois fomos procurar um banco pra sentar e esperar pelo busu. E quem vejo sentadinha no mesmo banco aonde sentamos? Ela estava lá como se fosse uma passageira esperando sua rota chegar. Ela me viu e de vez em quando olhava. Lucido a essas horas já tinha aberto um pacote de salgadinhos e ela fitava-o com cara de esfomeada. Ele com a "sensibilidade" que lhe é própria [hahahaha :P], saiu em busca de um caixa eletrônico e me deixou lá, com a doida me encarando.

Eu olhava para o teto, olhava para o relógio, olhava para a televisão pendurada na parede logo a frente muito impaciente. Depois de um tempinho a doida se levanta, dá a volta no banco de onde eu estava sentada e vem falar comigo. Ela veio como alguém que pede alguma informação. Tinha nas mãos um retalho de pano verde cortado em forma de quadrado de mais ou menos 3 centímetros de largura. Toda "gentil", ela me deu esse pano dizendo pra eu guardar comigo. Que ia me proteger de num sei quem. Ahn, entre as outras insanidades que ela falou, eu identifiquei somente o fim quando ela disse que era pra eu guardar que aí a menina ia fazer o meu leite [hahahah XD]. Huummm. Ok, peguei o pano pra não contrariar. E ela se foi.

É lógico que nessas horas eu não sabia se ficava sem graça ou se ria da situação. Joguei o paninho fora é claro. Sabe lá de onde ela tinha tirado aquilo. Ao meu lado tinha um senhor aparentando bastante idade e com um chapéu daqueles das pessoas da roça. Ele observou toda a cena e quando a doida se afastou ele virou pra mim e disse: Sabe, ela é... [fazendo o gesto rodando o dedo indicador perto dos ouvidos]. Liga não!

Continua...

Todos os capítulos:
episódio 1: "Os Preparativos"
episódio 2: "A Velha Pentelha"
episódio 3: "A Doida da Rodoviária"
episódio 4: "O Namorado de Gal Costa"
episódio 5: "Gringos"
episódio 6: "Eu era um turista..."
ep. final: "A Sala de Tortura"

Enviado por ThEyA às 16:00

Fale agora ou cale-se para sempre.
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Me vejo assim...

Eu me chamo Themis mas os outros me chamam de Theya, Timica, Thê, Themisuda, Trêmis, Tlemos, Thâmis. Apenas não me chame de "psiu" nem "ei" pois eu não vou olhar. Mitida não, apenas eu gosto do meu nome e se é pra usar vamos usá-lo.

Moro em Manaus, visual lindo, paisagem magnífica. Detesto preconceito e intolerância. Não gosto de ser previsível e tento ser original. Dou valor à lealdade apesar de levar muito na cara por isso. Gosto de sorvete, chiclete, jujuba, cocada, X-salada sem salada, milk-shake de chocolate e sushi. Sou finalista na faculdade, programadora iniciante, um pouco nerd e geek. Não fumo, bebo socialmente (raramente) e não consigo evitar roer as unhas. Aficionada por televisão e música, sou também uma cinéfila falida. Tímida na frente de quem não conheço, distraída em qualquer lugar e costumo a ser tachada de mitida por isso. Adoro rir, dançar, ler um bom livro, navegar na Internet, trabalhar, beijar na boca, cinema (pode ser em casa também), jogar no computador, meu quarto, som alto, balada e pessoas bem-humoradas.

Não espere encontrar aqui posts diarinhos, miguxês, spams recebidos por email (a não ser em casos muito extraordários). Espere tosquices e futilidades embora goste mais de redigir textos sobre assuntos sérios.

Não sei se alguém aí já notou mas os textos entre colchetes são totalmente dispensáveis. [nhé! mas são divertidos hihih O:D]

Espaço atualizado semanalmente mas às vezes posto mais vezes na semana, vai depender da minha disposição e inspiração. ;)

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quem estou? onde sou?
Da Série "Hasta La Isla de Margarita"
(viagem para Venezuela em 2006)
ep. 1: "Os Preparativos"
ep. 2: "A Velha Pentelha"
ep. 3: "A Doida da Rodoviária"
ep. 4: "O Namorado de Gal Costa"
ep. 5: "Gringos"
ep. 6: "Eu era um turista..."
ep. final: "A Sala de Tortura"

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